segunda-feira, 7 de abril de 2008

NO FUNDO

ANTES DE LER: Este é um texto que encontrei perdido por aí. Nem lembrava que o tinha escrito e ainda não lembro de tê-lo. Provavelmente estava bêbado quando escrevi, por isso nem vou dar uma editada. Vou postar assim mesmo.



No fundo

Karina arrumava suas malas em algum lugar de pinheiros.

Alem das coisas normais ela pôs o seu diário, no fundo da mala, e entre as suas páginas, fotos e pequenos bilhetes escritos à mão numa letra que não era a sua.

Junto também de seus pertences estava um guia turístico do sul e numa das páginas fixo com um clipe de papel, uma pequena lista das coisas que tinha que pensar ou repensar.

Queria distância de tudo que lembrava a sua vida, mas os levava na sua cabeça.

Queria se afastar do quadro pintado que era a sua vida e olhar de longe, se era possível ver todas as cores e imaginar a hora de cada pincelada.

Fernando em algum lugar da zona sul da cidade tentava por ordem seu apartamento.

Recolheu os livros jogados, folhetos de fast-foods, roupas esquecidas em algum momento irracional: beijos e gritos.

Queria juntar tudo e ver as rimas se formar em sua vida, se é que elas existiam.

Porque elas faziam falta.

Uma canção inacabada sem ninguém pra cantar junto.

Desde ontem Karina tinha certeza de que a viagem lhe faria bem. Talvez sentisse uma pontada de saudades de algumas coisas. Quem sabe de Fernando até.

Debaixo de uma pilha de camisetas no quarto, havia um par de chinelos havaianas cor de rosa. Dela, de quem mais poderia ser. Calçou – os, mas seus dedos dos pés eram grandes demais pra caber, de uma forma fofa de se dizer.

Imaginou se ela voltaria pra buscar os chinelinhos.

Karina fechou o zíper da mala. E isso era tudo o que ela ia levar na viagem e nada mais.

Quando vai ao banheiro lembra sem querer que não pegou sua escova de dentes. Aí o telefone toca.

“Karina?”

“Oi...que surpresa. Não esperava que você ligasse.”

“Nem eu. Na verdade, quando percebi já tava discando o seu número. Mas eu só queria te dizer boa viagem.”

“Certo. Então...?”

“Então o quê?”

“Não vai me dizer seu tonto?”

“Ah! Boa viagem!”

“Obrigado. Vai ser legal.”

“Vou esperar sua volta. Posso?”

“Pode sim.”

“Então você vai voltar?”

“De um jeito metafórico?”

“Sei lá? Vai voltar?”

“Por que eu voltaria?”

“...seus chinelos rosas ainda estão aqui.”

Então Fernando ficou em silêncio, esperando pela resposta.

FIM

Em algum lugar de 2005