sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

MOJO BOOKS - Three Cheers For Sweet Revenge

Há um site legal chamado Mojo Books que publica e disponibiliza para downloads pequenos livros que são baseados em álbuns musicais.

Participei de um concurso de contos baseados em músicas do álbum "Three Cheers For Sweet Revenge" da banda My Chemical Romance.

Consegui que quatro contos meus entrassem no livro virtual, que será lançado em Janeiro de 2008 no site da Mojo Books (www.mojobooks.com.br ).

Não sei o motivo, mas fui creditado diferentemente duas vezes.

link do resultado:
http://mojomcr.wordpress.com/promocao-mojomy-chemical-romance/os-escolhidos-dos-editores/

Oficialmente, a MOJO Books já escolheu um texto para cada música, para figurar no livro como “Escolha dos editores”. Saiba quem foram os escolhidos pela MOJO:

1. Helena
Texto de Alexandre de Melo Costa

2. Give ‘Em Hell, Kid
Texto de Larissa

3. To The End
Texto de Cristina Gonçalves

4. You Know What They Do To Guys Like Us In Prison
Texto de Juliana Fonseca

5. I’m Not OK (I Promise)
Texto de Guilherme Shinji

6 The Ghost Of You
Texto de Cintia Macena

7. The Jetset Life Is Gonna Kill You
Texto de Guilherme Matsumoto

8. Interlude
Texto de Dalton Silva

9. Thank You For The Venom
Texto de Guilherme Shinji

10. Hang ‘Em High
Texto de Beatriz Paz

11. It’s Not A Fashion Statement It’s A Deathwish
Texto de Bárbara Fernandes

12. Cemetery Drive
Texto de Guilherme Shinji

13. I Never Told You What I Do For A Living
Texto de Rita Valdes

***

PS: Já publiquei aqui a primeira versão de um dos contos na postagem de 7 de novembro de 2007. Nessa primeira versão o conto se chamava "
Dois Andares", que posteriormente editei e mudei de título. É um conto baseado na música "I´m Not Okay (I Promise)".

domingo, 9 de dezembro de 2007

CRITICA DE FILME "FIDO"(2006)

Esta é uma critica de uma comédia canadense do diretor Andrew Currie sobre zumbis ou também conhecidos como mortos-vivos.

Saiu numa revista eletrônica de critica cinematográfica, Revista Pupila, feita pelos alunos de cinema da ECA.

Edição 2, seção "EM FOCO".

http://www.revistapupila.com/

Tenho uma certa predileção por filmes de terror, mais especificamente do subgênero dos mortos-vivos. Um dia escrevo por que acho esse tipo de filme tão interessante.

Abaixo, na íntegra, a critica de "Fido".


FIDO – O MASCOTE

"Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos andarão pela terra." E trabalharão entregando...leite para os vivos?

A frase em aspas pertence ao filme "Despertar dos Mortos"(1978) de George Romero, segundo filme de sua carreira a abordar um universo onde os mortos voltaram à vida e têm fome de carne humana. O clima pessimista do filme de Romero não tem vez em "Fido" (2006) onde os mortos foram cooptados pelo sistema e trabalham cortando grama, entregando jornais, limpando a casa, fazendo qualquer tipo de trabalho braçal. Tudo isso graças a colares eletrônicos que deve ser postos no pescoço dos zumbis que deixam eles mais pacíficos, num estado de torpor que troca a fome de carne humana por “vontade” de trabalhar. Em outras palavras, eles se tornam escravos da classe média.

O filme dirigido pelo diretor canadense Andrew Currie apresenta um novo ponto de vista para o subgênero de terror dos morto-vivos que nos últimos anos vem ganhando novo fôlego. A obra de Currie sucede filmes como "Extermínio" (de Danny Boyle) que vinha numa embalagem de ficção científica e com "Todo Mundo Morto" que colocava o subgênero misturado com a comédia, o que também ocorre aqui. Filmes que fincam suas bases nas obras de terror dos anos 70, que apresentavam uma violência mais crua, real e com finais pessimistas. Isso não foi apenas uma característica apresentada nos filmes de terror.

Toda a cinematografia americana apresentava suas idéias menos hollywoodianas. O país passava por uma crise, já não se acreditava mais no “American Way of Life”. Os EUA mandavam seus jovens para uma guerra perdida no Vietnã, as tramóias políticas vinham à tona, um presidente foi assassinado em frente às câmeras. Com esse balde de água fria, os cineastas captaram essa falência do idealismo, da esperança pra colocar obras mais contundentes no mercado. Nessa época surgia também o filme “A Noite dos Mortos Vivos” (1969) de George Romero, que apresentava uma nação onde os mortos voltavam à vida unicamente para saciar sua fome de carne viva e humana. O filme apresenta uma idéia de como a sociedade reagiria frente a uma crise e como todas as noções de civilização e ordem que temos poderiam ser facilmente quebradas, postas abaixo.

O que aconteceria se os zumbis canibais encontrassem a inocentes donas de casa dos anos 50? Currie dá sua visão desse encontro. O diretor, canadense, se utiliza indubitavelmente da iconografia norte-americana da classe média pós-guerra, fortalecida pela crescente industrialização do país. Carros novos, roupas industriais dão um aspecto homogêneo a todos os personagens, casas com suas cercas coloridas. Porém a guerra aqui não foi feita contra os países do Eixo, mas contra a horda dos mortos. Estamos situados num país não nomeado de uma realidade alternativa, mas os penteados não mentem.

Currie entra num mesmo movimento semelhante à Quentin Tarantino, subvertendo e retrabalhando regras dos gêneros cinematográficos. Aqui o diretor insere a infestação de morto-vivos dentro do "American Way of Life" com aquelas donas-de-casa e seus maridos e suas casas de plástico.

Na primeira cena de “Fido”, vemos um pequeno noticiário informativo nos moldes dos cines-jornal dos anos 50. Nele vemos que a Terra foi atingida por um gás vindo do espaço que reanimou os mortos. Os humanos travaram uma guerra com eles e graças à tecnologia da empresa “ZomCom”, foi possível estudar e domesticar os mortos, além de isola-los fora do perímetro das cidades.

As luzes se acendem e vemos que o noticiário estava sendo passado a uma classe escolar de crianças. Um representante da “ZomCom” aparece na sala de aula pra responder a perguntas. O jovem Timmy Robinson (K´Sun Ray) pergunta se esses seres estão vivos ou mortos. Algumas crianças riem. Então o chefe de segurança fala que os zumbis não são humanos e só tem um objetivo em suas vidas, comer a carne dos mortos. Todas as crianças parecem satisfeitas com a resposta insalubre, mas Timmy ainda tem dúvidas.

A comédia brinca com essa alienação dos habitantes dessa cidade. Eles não se importam de onde eles vêm ou nem como era a vida desses zumbis antes da morte deles. Os zumbis servem apenas como trabalhadores braçais, fazendo seus serviços sem nenhum tipo de remuneração, como simples escravos. E os habitantes simplesmente não ligam para isso ou para qualquer outra coisa a não ser as aparências.

Com a família de Timmy a coisa não é diferente. O pai dele não quer saber da família, com medo de que se possa afeiçoar demais com essas pessoas com quem ele mora. Quem sabe um dia ele tenha que matar eles, caso ele virem zumbis. A mãe só liga para melhorar a visão que os vizinhos têm da própria família e vive infeliz com a frieza do marido. E Timmy, por sua vez, vive sozinho porque os colegas de escola não entendem o lado questionador dele e os pais não ligam pra ele.

Mas logo a relação da família começa a mudar com a chegada de uma nova aquisição: um empregado zumbi. Timmy logo se afeiçoa a criatura e o apelida de Fido. O menino consegue enxergar que havia e talvez ainda exista uma vida por trás daquela fachada do criado-escravo comedor de gente. O longa apresenta uma visão interessante e engraçada de que os zumbis também são gente que nem nós e têm sentimentos. Hum, alguém ai se lembra da xenofobia exacerbada nos últimos anos?

Aliás, o filme apresenta sutis críticas direcionadas à nação mais poderosa do mundo, mas elas nunca chegam e emperrar a narrativa. Como, por exemplo, um comercial de TV que informa que todos ainda podem contribuir com a produtividade da sociedade depois de mortos, como zumbis. E que qualquer um pode comprar; consumimos qualquer coisa que for transformada em produto.

Desde que se tenha um comercial bonito na TV.

Guilherme Shinji




quarta-feira, 7 de novembro de 2007

DOIS ANDARES

ANTES DE LER: um conto baseado numa música, que eu ainda não vou dizer qual é. Mas é que eu estou mandar ela pra um site, vamos ver o que rola. Esta é a primeira versão.


***

Jonas conta mais uma vez como o seu cachorro subiu na mesa de jantar quando todo mundo da familia estava comendo.

_...fez cocô em cima da mesa, desceu a mesa e foi brincar com um osso.

Alice ri da história. Mesmo que seja a terceira vez seguida que ele conta, a historia continua sendo engraçada. Jonas sente que ela não quer falar do que aconteceu.

Olha mais uma vez para o gesso que cobre a perna dela.

_ O veterinário disse que ele ta fazendo isso porque o Frank está velho e quer atenção. Acho que ele sabe que vai morrer logo. Frank… – Jonas diz.

A risada de Alice termina.

_ Isso foi engraçado – diz Alice.

_ Saber que vai morrer?

_ A outra parte. Do cocô!

_ Então me diz onde é que tá a parte engraçada da sua história? Como pular do segundo andar da escola é engraçado?

_ Não sei. Acho que se você estivesse lá ia achar graça. Eu só queria experimentar como seria pular do segundo andar. Na hora me pareceu uma coisa legal pra fazer.

Ela termina de responder e olha para a brancura do gesso, como se ele fosse sagrado.

Jonas sabe porque ela pulou.

Para que o ex-namorado dela a visse pulando da janela. E para que ele soubesse que ela odiou o fato dele ter mostrado umas fotos que ele tirou de Alice.

Ela vestia uma calcinha.

Vermelha.

_ Eu vi um cara fazer isso na internet e não me pareceu nada engraçado. Vaza muito sangue do corpo, sabia?

Alice começa a rabiscar alguma coisa no gesso que usa. É alguma coisa que tem a cor preta.

Os dois se conhecem desde quando tinham dez anos e eram vizinhos. Começaram a conversar porque sentiam que tinham algumas coisas em comum. Como o fato dos dois terem engolidos pilhas quando eram crianças, tinham gatos em casa e ambas as mães deles tinham traídos os pais e ido embora de casa.

_ O que você está desenhando ai?

_ Um pássaro.

_ Preto?

_ O pássaro é meu e eu faço do jeito que eu quiser. Na verdade é um corvo.

_ E você desce dos prédios do jeito que quiser também?

_ Foi só uma experiência, relaxa.

Jonas sabia que ela não ia se contentar com apenas dois andares. Seria mais num futuro próximo. Bem mais.

Mais exatamente onze andares.

Era essa a distância da janela do quarto de Alice até o chão.

_ Que eu saiba as pessoas experimentam mudar de emprego, pedir um sorvete diferente, usar uma calça dois números menores. Elas não experimentam pular dos prédios! – ele diz.

Para os dois, eles eram bons amigos. Quase que como irmãos. Mas depois de Jonas ter visto as fotos dela, ele começou a se sentir diferente em relação à Alice. Nunca tinha notado o quanto Alice era bonita.

_ Olha, eu agradeço a sua preocupação e tudo mais. Só que eu sou uma mulher! Já sangro uma vez por mês e já tenho cintura de mulher. Mas eu não preciso de uma mãe pra cuidar de mim. Já tive uma e ela não foi um bom exemplo de mãe.

Jonas olha para a janela do apartamento e vê boa parte da cidade. Pensa que a mãe dela esta em algum lugar dessa cidade. Imagina ela recebendo a noticia da morte da filha. Lembra que alguém disse que não há dor maior do que perder alguém que se ama muito. Pensa em quantas pessoas vivem lá e nenhuma delas foi tão amiga dele quanto Alice. Jonas fica triste com esse pensamento.

_ Ei, não quer desenhar nada no meu gesso?

Ele olha para o corvo no gesso.

_ Vou pintar um céu ai – ainda olhando para a cidade.

_Hum, que pena. Acho que perdi o lápis azul. Você pode fazer um céu vermelho, tudo bem pra você?

_ Não.

Jonas olha nos olhos de Alice.

_ Eu não estou bem.

E apenas com essas palavras, sem nem mesmo se despedir, Jonas pula pela janela.

Não tem um último pensamento.

* * *

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

BRIGA DE CASAL

ANTES DE LER: Um conto que se passa num subgênero do terror, num universo pós-apocaliptico dominado por mortos-vivos (zumbis). A idéia inicial era de se ter apenas um personagem isolado num apartamento, mas com a presença de mais um personagem o conflito da história crescia muito mais. Não sei porque, mas esse subgênero me atrai muito, mesmo não sendo um amante do gênero de terror.

***

ELE acorda em seu apartamento com a luz do meio dia. Não há razão para acordar antes. Não existem compromissos para hoje. Nem para amanhã. Ele nem sabe se ainda vai estar vivo até o final do dia.

Ele vai até o banheiro para ver se hoje há água na torneira. Liga a televisão em procura de algo para se distrair. Coloca pilhas no rádio para ouvir alguma notícia.

Todas as tentativas são frustradas. Pois já não há mais água, nem energia elétrica, nem vida lá fora.

Ele se senta no sofá e abre o último jornal mais uma vez. Não se lembra mais quantas vezes já leu as mesmas notícias. ELA acorda com a estática do rádio, levanta-se e o desliga.

_Você sabe que isso é inútil - ela fala numa voz como se ele fosse débil mental.
_Assim como aconteceu, isso tudo pode acabar de um dia para o outro - ele diz.
_Não vai ser tão fácil assim quanto você pensa.
_E se as coisas voltaram ao normal?Estamos aqui presos aqui nesse apartamento! - ele grita.
_Olha lá para fora e veja por si mesmo - ela diz, voltando para o quarto.

Ele vai até a janela conferir. Não há movimentação alguma. As ruas estão completamente desertas exceto pelos corpos em decomposição e os carros abandonados. Ele imagina que uma guerra seja assim. Ruas abandonadas, corpos jogados e gente escondida em buracos. Sente-se numa guerra onde qualquer um pode se tornar um inimigo em potencial.

_Nós não estamos mortos ainda - fala para si mesmo.

Vai até o armário da cozinha, onde restam poucas latas de conserva. Milho de novo ou ervilhas pela milésima vez?Pega uma lata sem se importar com o que seja. Ela sai do quarto de novo e se senta na mesa, emburrada.

_Você me fez perder o sono!
_Dá pra dormir o dia inteiro.
_Não interessa! E você sabe que eu não consigo dormir de noite!
_E você acha que eu consigo?
_Espera! Tá ouvindo?

Passos desastrados e lentos no andar de cima. Como se o dono das pernas não tivesse destino, nem pressa.

_Eles sabem que a gente está aqui - ele diz.
_Eles são burros! Eles não sabem de nada! - ela grita.
_Cala a boca!
_São uns estúpidos! - ela pega uma vassoura e bate com ela no teto.
_Pare com isso! Eles vão saber que a gente está aqui!

Ela sobe na mesa e bate as mãos no teto.

_A gente tá aqui! A gente tá aqui! Vem nos pegar! - ela grita sem contole.
_Desce daí e cala a boca! - ele diz, subindo na mesa.
_Vem nos comer seus filhos da puta!!!
_Fica calma! Eles vão saber! - ele agarra os braços dela.

Ele, num breve instante, pensa que não há diferença entre os dois confinados naquele apartamento e Eles. Todos apenas estão seguindo seus instintos de sobrevivência. No mesmo momento em que lhe ocorre o pensamento, ele apóia o pé no canto da tampa, mudando o ponto de equilíbrio da mesa.

A mesa vira, jogando latas, jornais e aquelas duas pessoas ao chão.

Ela sente uma dor no cotovelo e ri daquela cena patética. Há ervilhas no cabelo dela e isto a faz rir mais.

_Somos dois palhaços - diz rindo, com a água da conserva escorrendo pelo rosto.

Mas só ela está rindo. Ele está jogado do outro lado da mesa. Ela se levanta e o chama pelo nome. Ele está deitado no chão, olhando para o teto, olhos apontados para a lâmpada queimada da cozinha. Porém, o resto do corpo está deitado de bruços. Ela solta um pequeno grito ao vê-lo naquela posição estranha.

Ele geme. Suas mãos tremem e os olhos lacrimejam. Ele quer dizer alguma coisa, mas o gemido vai sumindo, sendo sugado pela garganta.

Ela chora e pensa que tem que sair imediatamente daquele lugar, pois já não é mais seguro ficar lá. O inimigo em potencial está dentro de casa. Chuta a perna dele. Não há resposta. Parece que ainda há tempo de fugir.

Ela corre para o quarto e joga umas roupas dentro da mala. Engole o choro para ir mais rápido. Volta para a cozinha e o corpo dele não está lá.

_Merdamerdamerda.

Ela pega um espeto metálico de carne. Suas mãos tremem. Ela vai ao quarto, pega a mala e corre para a porta da frente. As mãos viram os trincos da porta e algo lhe agarra os cabelos e a puxa para trás.

Ela se vira e o vê. Com os olhos vazios e a cabeça pendendo para o lado, pendurada apenas pela pele do pescoço. Ela enfia o espeto no peito dele enquanto as mãos mortas fecham-se no pescoço dela. Caem no chão, ela enterra os dedos na cara dele. A boca seca dele vai em direção ao nariz dela. Os dentes estão para arrancar um talho dela.

As mãos femininas tateiam o peito dele e acham o espeto. Ela o arranca do peito e enterra na cabeça dele. Um jato de sangue atinge os olhos dela. Ele solta o que parece ser um gemido e pende para o lado, caindo como um boneco.

Ela grita e chora. Limpa o sangue dos olhos com um pano de prato e sabe que é hora de partir.

Pela primeira vez em dois meses, a porta da frente se abre. Ela sai, com uma mala na mão e, na outra um espeto de carne ensangüentado, deixando o apartamento igual como todos os outros daquele edifício. Abandonado, com cheiro de carne putrefata.

A GROWING ADDICTION THAT I CAN´T DENY

Num desses dias tive um sonho, num bar fechado, onde eu cantava com a Amy Winehouse.

Tinha a banda e eu era o cara do backing vocal.

Estavámos cantando "Kiss From a Rose" do Seal.

A música é de menina, mas eu cantei com emoção pra caralho.

Preciso de terapia...

http://www.youtube.com/watch?v=ateQQc-AgEM

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

ABOUT THE BUGS AND THE ALPHABET

ANTES DE LER O TEXTO: Um conto infantil que eu escrevi inspirado numa música dos White Stripes, "We´re Going To Be Friends".

***

Alice segura gentilmente seu lápis acima do seu caderno encapado com plástico de pequenas figuras de meninas com bonecas.


A professora está dando uma aula de ciências, mostrando que os homens são a espécie mais evoluída do planeta, mais que as baleias, insetos ou dinossauros.

Mas Alice lembra daquele filme em que os dinossauros matavam aquelas pessoas no parque. Ou daquele filme do tubarão assassino que não conseguiu ver até o fim. Ou das aranhas gigantes.

Ela observa pela janela o jardim da escola. Uma pequenina joaninha está pousada no vidro e Alice ri porque pode ver debaixo da saia do animalzinho. Ela toca o vidro e a joaninha se assusta, voando para longe da janela.

A professora pede que Alice preste atenção na aula, porque a matéria será um assunto importante para o resto da vida dela.

Alice olha uma última vez para o jardim e pensa que as joaninhas é que são evoluídas, pois estão livres de aula, lição de casa e de ter que mastigar de boca fechada.
***
Link para o videoclipe:

Manual de Instruções!

Bom, esse blog vai ser um lugar de experimentação para as coisas que estou escrevendo. Até mesmo para não ficar perdendo textos nos cds, disquetes e email.


Sempre que possível vou colocar um pequeno resumo de cada texto pra todo mundo saber de que se tratam os textos. Porque ninguém é obrigado a ler tudo. Também vou tentar colocar comentários de como os criei, mas nada assim tão rigoroso.


Os textos serão passíveis de revisões ao longo do tempo, mas sempre vou deixar avisado.


Obrigado pela leitura, mãe.
(Estou me alimentando bem sim!)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

CLARA

Um dia o pai de Clara foi buscar o carro na oficina e nunca mais voltou.

Foi num domingo de Fórmula Um. O pai disse à menina que ia buscar o carro pra poder participar das corridas dominicais. A mãe dela chorou por dias inteiros, e Clara não entendia por que seu pai demorava tanto para voltar da oficina.

Clara ligava a televisão todo domingo em busca do pai.

Quando a temporada acabou, também não entendeu porque o pai, que estaria de férias, não voltou.

Num belo dia de primavera, Clara chegou da rua e encontrou o pai dentro de casa, vestindo um macacão e capacete, com um presente: um conjunto de canetinhas para a filha. Clara riu de tudo porque seu pai tinha virado piloto de fórmula 1 e ficou feliz.

Ela só não sabia que o pai tinha virado operário de construção e casado com a Marlene da papelaria.

(28 de junho de 2007)

domingo, 2 de setembro de 2007

GUARDE O MELHOR PARA DEPOIS


Todo o cenário estava posto. A carta para a família, a banheira estava cheia de água quente, uma garrafa de whisky pra dar aquela calibrada e um pouco da coragem necessária. Ah, e o principal também, uma navalha que tinha pertencido a seu avô, utilizada principalmente para fazer a barba durante a uma guerra mundial.

Imaginou se o avô usou a navalha para matar algum soldado inimigo, fazendo um talho de orelha a orelha.

Meia garrafa de whisky depois, César, nu, mergulha dentro da banheira como se mergulhasse numa piscina. Ri e sem enrolação faz um corte profundo com a navalha em seu pulso esquerdo; um corte que começa perto da dobra do cotovelo e termina perto da mão.

O corte arde e com os olhos sedentos ele espera o sangue fluir em jorros para fora de seu corpo.

Mas é um rasgo seco, sem cor, sem vida.

César não entende. Enterra a navalha em seu outro pulso com mais força e profundidade, mas o resultado é o mesmo. Não há sangue saindo pelas feridas.

César fica sentado na banheira, horas depois da água já ter esfriado.

E num pulo, como se tivesse esquecido a panela no fogão, guarda a navalha no armário, enxuga-se, cobre seus cortes com uma gaze e guarda a carta para a sua família.

César tinha resolvido, nos próximos meses, arranjar um emprego, uma namorada com quem pudesse se casar, comprar uma televisão grande pra ter prestações a pagar durante meses, filhos para sustentar.

E então quando tivesse uma vida, aí sim, poderia dar um fim nela.

FIM

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

COISAS INOMINÁVEIS DAS QUAIS A GENTE CUIDA, MAS QUE COMO TUDO ACABA MORRENDO

Poucos dias depois que Joana terminou comigo, recebi em casa um bilhete e um pacote , que na verdade era um saquinho plástico bem estufado.

O bilhete dizia:" O que eu sinto. Beijos, Joana."

No saquinho plástico tinha água.
E um peixe.

Era um peixinho dourado do qual não me dei o trabalho de saber a raça e de dar um nome a ele.

Comprei ração e um aquariozinho para ele. Ele ficava a nadar o dia inteiro e coisa alguma podia afetá-lo; nem o sol, nem a chuva e muito menos a queda do dólar. Tinha a certeza de que ele nadaria para sempre dentro daquele aquário.

Às vezes acordava no meio da noite e ficava olhando para ele ;
meus olhos fixos esperavam que o peixe falasse, contando o maior segredo de Joana ou, sei lá, o segredo da vida.

Às vezes eu lhe contava um segredo, meus pensamentos sobre a vida que não contava para ninguém. Dizia para o peixe como as mulheres eram mais inteligentes que os homens e de como elas gostam de jogar isso na nossa cara.

Mas eu sempre sussurrava esses segredos para ninguém mais ouvir.

E num dia como qualquer outro eu o encontrei boiando sem vida no aquário. Foi embora repentinamente sem mostrar sinais de que sua vida se esvaía. Morreu sem me contar nada
sobre como Joana se sentia ou o que ela pensava sobre mim.

Simplesmente morreu.
E em silêncio.

Coloquei terra no aquário e fiz dele a sepultura do peixe. Enterrei- o lá porque não tive coragem de jogá-lo fora no lixo, como se fosse parte dos meus restos de comida e papéis amassados.

Numa manhã chuvosa de sexta-feira vi pequenos brotinhos lutando para serem desenterrados do aquário, querendo ver a luz do dia.

Resolvi regar aquela plantinha e enquanto fazia isso naquela manhã chuvosa, minhas esperanças se renovaram e fiquei a imaginar que segredos aquele brotinho tinha para me contar.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

DIET?

Que diabos!

Sou péssimo para nomes...