ANTES DE LER: Um conto que se passa num subgênero do terror, num universo pós-apocaliptico dominado por mortos-vivos (zumbis). A idéia inicial era de se ter apenas um personagem isolado num apartamento, mas com a presença de mais um personagem o conflito da história crescia muito mais. Não sei porque, mas esse subgênero me atrai muito, mesmo não sendo um amante do gênero de terror.
***
ELE acorda em seu apartamento com a luz do meio dia. Não há razão para acordar antes. Não existem compromissos para hoje. Nem para amanhã. Ele nem sabe se ainda vai estar vivo até o final do dia.
Ele vai até o banheiro para ver se hoje há água na torneira. Liga a televisão em procura de algo para se distrair. Coloca pilhas no rádio para ouvir alguma notícia.
Todas as tentativas são frustradas. Pois já não há mais água, nem energia elétrica, nem vida lá fora.
Ele se senta no sofá e abre o último jornal mais uma vez. Não se lembra mais quantas vezes já leu as mesmas notícias. ELA acorda com a estática do rádio, levanta-se e o desliga.
_Você sabe que isso é inútil - ela fala numa voz como se ele fosse débil mental.
_Assim como aconteceu, isso tudo pode acabar de um dia para o outro - ele diz.
_Não vai ser tão fácil assim quanto você pensa.
_E se as coisas voltaram ao normal?Estamos aqui presos aqui nesse apartamento! - ele grita.
_Olha lá para fora e veja por si mesmo - ela diz, voltando para o quarto.
Ele vai até a janela conferir. Não há movimentação alguma. As ruas estão completamente desertas exceto pelos corpos em decomposição e os carros abandonados. Ele imagina que uma guerra seja assim. Ruas abandonadas, corpos jogados e gente escondida em buracos. Sente-se numa guerra onde qualquer um pode se tornar um inimigo em potencial.
_Nós não estamos mortos ainda - fala para si mesmo.
Vai até o armário da cozinha, onde restam poucas latas de conserva. Milho de novo ou ervilhas pela milésima vez?Pega uma lata sem se importar com o que seja. Ela sai do quarto de novo e se senta na mesa, emburrada.
_Você me fez perder o sono!
_Dá pra dormir o dia inteiro.
_Não interessa! E você sabe que eu não consigo dormir de noite!
_E você acha que eu consigo?
_Espera! Tá ouvindo?
Passos desastrados e lentos no andar de cima. Como se o dono das pernas não tivesse destino, nem pressa.
_Eles sabem que a gente está aqui - ele diz.
_Eles são burros! Eles não sabem de nada! - ela grita.
_Cala a boca!
_São uns estúpidos! - ela pega uma vassoura e bate com ela no teto.
_Pare com isso! Eles vão saber que a gente está aqui!
Ela sobe na mesa e bate as mãos no teto.
_A gente tá aqui! A gente tá aqui! Vem nos pegar! - ela grita sem contole.
_Desce daí e cala a boca! - ele diz, subindo na mesa.
_Vem nos comer seus filhos da puta!!!
_Fica calma! Eles vão saber! - ele agarra os braços dela.
Ele, num breve instante, pensa que não há diferença entre os dois confinados naquele apartamento e Eles. Todos apenas estão seguindo seus instintos de sobrevivência. No mesmo momento em que lhe ocorre o pensamento, ele apóia o pé no canto da tampa, mudando o ponto de equilíbrio da mesa.
A mesa vira, jogando latas, jornais e aquelas duas pessoas ao chão.
Ela sente uma dor no cotovelo e ri daquela cena patética. Há ervilhas no cabelo dela e isto a faz rir mais.
_Somos dois palhaços - diz rindo, com a água da conserva escorrendo pelo rosto.
Mas só ela está rindo. Ele está jogado do outro lado da mesa. Ela se levanta e o chama pelo nome. Ele está deitado no chão, olhando para o teto, olhos apontados para a lâmpada queimada da cozinha. Porém, o resto do corpo está deitado de bruços. Ela solta um pequeno grito ao vê-lo naquela posição estranha.
Ele geme. Suas mãos tremem e os olhos lacrimejam. Ele quer dizer alguma coisa, mas o gemido vai sumindo, sendo sugado pela garganta.
Ela chora e pensa que tem que sair imediatamente daquele lugar, pois já não é mais seguro ficar lá. O inimigo em potencial está dentro de casa. Chuta a perna dele. Não há resposta. Parece que ainda há tempo de fugir.
Ela corre para o quarto e joga umas roupas dentro da mala. Engole o choro para ir mais rápido. Volta para a cozinha e o corpo dele não está lá.
_Merdamerdamerda.
Ela pega um espeto metálico de carne. Suas mãos tremem. Ela vai ao quarto, pega a mala e corre para a porta da frente. As mãos viram os trincos da porta e algo lhe agarra os cabelos e a puxa para trás.
Ela se vira e o vê. Com os olhos vazios e a cabeça pendendo para o lado, pendurada apenas pela pele do pescoço. Ela enfia o espeto no peito dele enquanto as mãos mortas fecham-se no pescoço dela. Caem no chão, ela enterra os dedos na cara dele. A boca seca dele vai em direção ao nariz dela. Os dentes estão para arrancar um talho dela.
As mãos femininas tateiam o peito dele e acham o espeto. Ela o arranca do peito e enterra na cabeça dele. Um jato de sangue atinge os olhos dela. Ele solta o que parece ser um gemido e pende para o lado, caindo como um boneco.
Ela grita e chora. Limpa o sangue dos olhos com um pano de prato e sabe que é hora de partir.
Pela primeira vez em dois meses, a porta da frente se abre. Ela sai, com uma mala na mão e, na outra um espeto de carne ensangüentado, deixando o apartamento igual como todos os outros daquele edifício. Abandonado, com cheiro de carne putrefata.
***
ELE acorda em seu apartamento com a luz do meio dia. Não há razão para acordar antes. Não existem compromissos para hoje. Nem para amanhã. Ele nem sabe se ainda vai estar vivo até o final do dia.
Ele vai até o banheiro para ver se hoje há água na torneira. Liga a televisão em procura de algo para se distrair. Coloca pilhas no rádio para ouvir alguma notícia.
Todas as tentativas são frustradas. Pois já não há mais água, nem energia elétrica, nem vida lá fora.
Ele se senta no sofá e abre o último jornal mais uma vez. Não se lembra mais quantas vezes já leu as mesmas notícias. ELA acorda com a estática do rádio, levanta-se e o desliga.
_Você sabe que isso é inútil - ela fala numa voz como se ele fosse débil mental.
_Assim como aconteceu, isso tudo pode acabar de um dia para o outro - ele diz.
_Não vai ser tão fácil assim quanto você pensa.
_E se as coisas voltaram ao normal?Estamos aqui presos aqui nesse apartamento! - ele grita.
_Olha lá para fora e veja por si mesmo - ela diz, voltando para o quarto.
Ele vai até a janela conferir. Não há movimentação alguma. As ruas estão completamente desertas exceto pelos corpos em decomposição e os carros abandonados. Ele imagina que uma guerra seja assim. Ruas abandonadas, corpos jogados e gente escondida em buracos. Sente-se numa guerra onde qualquer um pode se tornar um inimigo em potencial.
_Nós não estamos mortos ainda - fala para si mesmo.
Vai até o armário da cozinha, onde restam poucas latas de conserva. Milho de novo ou ervilhas pela milésima vez?Pega uma lata sem se importar com o que seja. Ela sai do quarto de novo e se senta na mesa, emburrada.
_Você me fez perder o sono!
_Dá pra dormir o dia inteiro.
_Não interessa! E você sabe que eu não consigo dormir de noite!
_E você acha que eu consigo?
_Espera! Tá ouvindo?
Passos desastrados e lentos no andar de cima. Como se o dono das pernas não tivesse destino, nem pressa.
_Eles sabem que a gente está aqui - ele diz.
_Eles são burros! Eles não sabem de nada! - ela grita.
_Cala a boca!
_São uns estúpidos! - ela pega uma vassoura e bate com ela no teto.
_Pare com isso! Eles vão saber que a gente está aqui!
Ela sobe na mesa e bate as mãos no teto.
_A gente tá aqui! A gente tá aqui! Vem nos pegar! - ela grita sem contole.
_Desce daí e cala a boca! - ele diz, subindo na mesa.
_Vem nos comer seus filhos da puta!!!
_Fica calma! Eles vão saber! - ele agarra os braços dela.
Ele, num breve instante, pensa que não há diferença entre os dois confinados naquele apartamento e Eles. Todos apenas estão seguindo seus instintos de sobrevivência. No mesmo momento em que lhe ocorre o pensamento, ele apóia o pé no canto da tampa, mudando o ponto de equilíbrio da mesa.
A mesa vira, jogando latas, jornais e aquelas duas pessoas ao chão.
Ela sente uma dor no cotovelo e ri daquela cena patética. Há ervilhas no cabelo dela e isto a faz rir mais.
_Somos dois palhaços - diz rindo, com a água da conserva escorrendo pelo rosto.
Mas só ela está rindo. Ele está jogado do outro lado da mesa. Ela se levanta e o chama pelo nome. Ele está deitado no chão, olhando para o teto, olhos apontados para a lâmpada queimada da cozinha. Porém, o resto do corpo está deitado de bruços. Ela solta um pequeno grito ao vê-lo naquela posição estranha.
Ele geme. Suas mãos tremem e os olhos lacrimejam. Ele quer dizer alguma coisa, mas o gemido vai sumindo, sendo sugado pela garganta.
Ela chora e pensa que tem que sair imediatamente daquele lugar, pois já não é mais seguro ficar lá. O inimigo em potencial está dentro de casa. Chuta a perna dele. Não há resposta. Parece que ainda há tempo de fugir.
Ela corre para o quarto e joga umas roupas dentro da mala. Engole o choro para ir mais rápido. Volta para a cozinha e o corpo dele não está lá.
_Merdamerdamerda.
Ela pega um espeto metálico de carne. Suas mãos tremem. Ela vai ao quarto, pega a mala e corre para a porta da frente. As mãos viram os trincos da porta e algo lhe agarra os cabelos e a puxa para trás.
Ela se vira e o vê. Com os olhos vazios e a cabeça pendendo para o lado, pendurada apenas pela pele do pescoço. Ela enfia o espeto no peito dele enquanto as mãos mortas fecham-se no pescoço dela. Caem no chão, ela enterra os dedos na cara dele. A boca seca dele vai em direção ao nariz dela. Os dentes estão para arrancar um talho dela.
As mãos femininas tateiam o peito dele e acham o espeto. Ela o arranca do peito e enterra na cabeça dele. Um jato de sangue atinge os olhos dela. Ele solta o que parece ser um gemido e pende para o lado, caindo como um boneco.
Ela grita e chora. Limpa o sangue dos olhos com um pano de prato e sabe que é hora de partir.
Pela primeira vez em dois meses, a porta da frente se abre. Ela sai, com uma mala na mão e, na outra um espeto de carne ensangüentado, deixando o apartamento igual como todos os outros daquele edifício. Abandonado, com cheiro de carne putrefata.