domingo, 26 de outubro de 2008

CHAPÉUZINHO SANGRENTO


CHAPEUZINHO SANGRENTO

Era uma vez uma menina muito bonita e suculenta chamada Chapeuzinho Sangrento. Isso porque ela usava sempre um chapéu. E tinha a cor vermelha, tão vermelha quanto sangue. Sim, da mesma cor do sangue que sai quando se corta o dedo.

Um dia, Chapeuzinho Sangrento foi levar um pedaço de carne para a Vovózinha. Era um fígado de boi. A Vovózinha adorava fígado acebolado. Mal passado, é claro. De preferência, sangrando.
Vovózinha de Chapeuzinho era muito velhinha. Tão velhinha que chegava a parecer uma múmia. Às vezes, as pessoas confundiam ela com um zumbi, daqueles que se levantam das tumbas para comer o cérebro dos vivos.

Mas a Vovózinha preferia fígado acebolado. Era por isso que Chapeuzinho foi levar um figado para ela. Um recém cortado, dentro de sua cestinha.

O caminho para a casa da Vovózinha era assombrado. Um ou outro fantasma passava por lá. Mas se você levasse um pacote de sabão em pó, os fantasmas deixavam você passar. Sem pegar no seu pé.

Chapeuzinho deixou um pacote de sabão em pó para eles.
E seguiu caminho.

Chapeuzinho chamou a atenção de um Lobo que passava por lá. O Lobo sentiu o cheiro do fígado, mas viu que tinha coisa melhor. Os olhos remelentos do Lobo se fixaram na carne branca de Chapeuzinho.

O Lobo resolveu abordar:
_Com licença, é por aqui que passa a estrada que vai para Piraporinha?
Chapeuzinho respondeu:
_Piraporinha? Não sei não, seu lobo. Essa daqui vai para Pirassununga.
_Ah, pode ser.
_Então me acompanhe.

Então Chapeuzinho seguiu caminho acompanhada do Lobo. O que aconteceu no resto do caminho, ninguém sabe. E acha que sabe, diz que é muito horroroso de se contar. Mas vamos dizer que Chapeuzinho foi ESTRAÇALHADA pelo Lobo!!! Feita em MIL PEDACINHOS!!!

Só se sabe que o Lobo foi até uma casa no fim da estrada.
Lá ele bateu na porta.

Uma velhinha, tão velha quanto uma múmia, abriu a porta.
Era a Vovózinha!

O Lobo disse:
_ Olá, eu trouxe um presente de sua netinha. Um delicioso fígado para a senhora acebolar!
_ Minha netinha?A Chapeuzinho?
_ Sim, ela mesma!Infelizmente ela não pode vir, porque comeu muito no almoço e está com indigestão.
_Que bondade a dela. Entre!

O Lobo entrou e a Vovózinha fritou o fígado com cebolas. E os dois comeram aquela carne. Depois que estavam satisfeitos o Lobo disse:

_Hahaha. Sabe esse fígado que a senhora fritou? Era da sua netinha!HAHAHAHA.

A Vovózinha ficou assustada.

_A minha netinha?
_Sim, eu peguei ela e a devorei. Deixei o fígado dela e nós a comemos.

A Vovózinha olhou para o prato dela, onde só tinha restado cebolas. Lambendo os dedos, ela perguntou:

_Não tem mais?

FIIIIIIIIM!!!

sábado, 25 de outubro de 2008

DORALICE PERDE A HORA E O RUMO

ANTES DE LER: escrevi como esboço para uma obra audiovisual.

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DORALICE PERDE A HORA E O RUMO

Era uma vez uma GOIABEIRA. Cheia de FRUTAS que alimentavam PÁSSAROS e alguns meninos levados que subiam nela. Um dia debaixo dessa goiabeira, uma MENINA parou lá para brincar de pular CORDA.

Essa menina se chamava Alice. Na verdade seu nome era Doralice. E ela preferia que a chamassem de Dora, tá bom?

Dora brincava debaixo da goiabeira quando um HOMEM apressado passou por ela. O homem tinha uma VALISE em mãos e vestia TERNO e GRAVATA. Falava pra si mesmo:

_ Tô atrasado! Tô atrasadíssimo!

O homem se enroscou na corda de Dora, mas não parou. A menina foi puxada pela corda. E não foi um puxãozinho não. O homem praticamente arrastou Dora por centenas de metros, por quilômetros.

No caminho a corda se enroscou em outras coisas: numa GALINHA,num PORQUINHO, num BALDE, num ESPANTALHO e numa VACA! Todos sendo puxados como se fossem rabiola de uma pipa.

O homem só se desenroscou quando chegou perto daquelas construções gigantes de concreto e carros passando por todos os lados. Muitas OUTRAS PESSOAS passavam atrasadas. Como Dora sabia que elas estavam atrasadas? Porque elas falavam, ué?

_Tôatrasado, atrasadamuitoatrasadoprecisocorrerometrôvaidemorar – era um falatório só e sem sentido.

Dora estava perdida ali. Não tinha prestado atenção no caminho que fizeram porque estava com um balde em sua cabeça.

_Oi, com licença – perguntou ela para uma MULHER._ Como é que eu faço pra voltar pra casa?

A mulher respondeu:

_Atrasada! Atrasada!Tô sem tempo – disse isso na mesma frase, sem parar pra respirar.

Dora até atrapalhava parada no lugar.

_Saidocaminho,saidafrente – disse alguém.

Sem saber o que fazer, Dora ia começar a chorar. Mas lembrou-se da mãe falando que às vezes chorar não adianta nada. Dora segurou o choro e olhou ao redor, pensando no que fazer para achar o caminho de casa.

Ela notou os ANIMAIS que tinham sido arrastados juntos com ela. Os animais olharam em volta e começara a caminha numa fila indiana.

Dora, que não queria ficar sozinha ali, resolveu segui-los.

Os animais caminharam centenas de metros, quilômetros até. Em fila indiana! Dora estava com medo de nunca mais chegar em casa. De nunca mais provar a comidinha de sua mãe, que era muito gostosa. Ficou com medo porque não sabia o que fazer. A não ser seguir os animais.

Eles caminharam até que chegaram perto de uma ÁRVORE muito grande. Dora Achou aquela árvore familiar. Até os FRUTOS eram familiares. Ela pegou um deles e deu uma mordida.
Era uma goiaba! De uma goiabeira! De perto de casa!

Não é que os animais conseguiram voltar pra casa? Os bichos são muito espertos mesmo!

Dora voltou pra casa, pensando que o povo da cidade era muito apressado. E não queria voltar mais à cidade.

Acontece que ela voltou para a cidade grande atrás de uma vaquinha leiteira. Mas isso é uma outra estória...


FIIIIIM!!!!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Mau Humor

ANTES DE LER: um segundo exercício de temática infatil. Mais ou menos infantil.

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MAU HUMOR

Quando a Dona Centopéia acordava de mau humor era melhor nem cruzar o caminho dela.
Encontrar com a Centopéia nesses dias era pior que queimar a língua com café quente. Até o Tamanduá que tinha uma linguona preferia se queimar.


_ Ela acordou com o pé esquerdo hoje - diziam quando a Centopéia passava. _ Aliás, com todos os cinquenta pés esquerdos! HAHAHA!

Se a Dona Centopéia ouvisse isso respondia na lata:

_ E que tal um chute de cada um dos meus pés esquerdos no seu traseiro?

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Sem Chapéu

ANTES DE LER: estava sem escrever e resolvi dar uma exercitada. O texto me surgiu ontem de noite, deitado na cama, esperando o sono vir. Tive que levantar pra escrever, evitando o risco de esquecer pela manhã. A temática infantil veio da leitura do livro "Que História É Essa" do Flávio de Sousa. Estava relendo alguns contos que são muito bons.

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SEM CHAPÉU

O tempo passou para Chapeuzinho Vermelho que cresceu e tornou-se uma adolescente descolada e independente. Abandonou o chapéu e fez trancinhas tererê em seu cabelo.

Até aí, tudo bem.

O problema era quando ia visitar a Vovózinha, que teimava em não recebê-la em sua casa:

_ De trancinhas?!! - gritava a avó - Pensa que me engana, seu lobo mau?!!


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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Madá

ANTES DE LER: esse textinho surgiu como uma piada na minha cabeça hoje de tarde, andando pela Avenida Paulista. Ficou trágico no fim das contas. Acho que não sou muito bom em contar piadas.

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Era Madá de Madalena.
Tinha noivo, considerava-se realizada e nos testes de revista sempre se saía como uma mulher do melhor tipo.

Um dia o noivo terminou com tudo.
Não queria mais saber dela.
Madá não se sentia mais feliz.

Numa dessas revista, leu que exercícios estimulavam a endorfina, aquela que deixa o nosso cérebro contente.

Matriculou-se numa academia.

Começou a correr.
Em alguns dias corria a tarde inteira.
Numa dessas tardes, correu e caiu na pista.

Morreu de exaustão.

Pelo que tudo indica, morreu feliz.

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domingo, 18 de maio de 2008

MAIS UM MOJO!


Tive um conto "publicado" no site da Mojo Books, mais uma vez.

Saiu na semana passada, um conto baseado na música "1979" do Smashing Pumpkins.

http://www.mojobooks.com.br/mojo_inteira.php?idm=87

segunda-feira, 7 de abril de 2008

NO FUNDO

ANTES DE LER: Este é um texto que encontrei perdido por aí. Nem lembrava que o tinha escrito e ainda não lembro de tê-lo. Provavelmente estava bêbado quando escrevi, por isso nem vou dar uma editada. Vou postar assim mesmo.



No fundo

Karina arrumava suas malas em algum lugar de pinheiros.

Alem das coisas normais ela pôs o seu diário, no fundo da mala, e entre as suas páginas, fotos e pequenos bilhetes escritos à mão numa letra que não era a sua.

Junto também de seus pertences estava um guia turístico do sul e numa das páginas fixo com um clipe de papel, uma pequena lista das coisas que tinha que pensar ou repensar.

Queria distância de tudo que lembrava a sua vida, mas os levava na sua cabeça.

Queria se afastar do quadro pintado que era a sua vida e olhar de longe, se era possível ver todas as cores e imaginar a hora de cada pincelada.

Fernando em algum lugar da zona sul da cidade tentava por ordem seu apartamento.

Recolheu os livros jogados, folhetos de fast-foods, roupas esquecidas em algum momento irracional: beijos e gritos.

Queria juntar tudo e ver as rimas se formar em sua vida, se é que elas existiam.

Porque elas faziam falta.

Uma canção inacabada sem ninguém pra cantar junto.

Desde ontem Karina tinha certeza de que a viagem lhe faria bem. Talvez sentisse uma pontada de saudades de algumas coisas. Quem sabe de Fernando até.

Debaixo de uma pilha de camisetas no quarto, havia um par de chinelos havaianas cor de rosa. Dela, de quem mais poderia ser. Calçou – os, mas seus dedos dos pés eram grandes demais pra caber, de uma forma fofa de se dizer.

Imaginou se ela voltaria pra buscar os chinelinhos.

Karina fechou o zíper da mala. E isso era tudo o que ela ia levar na viagem e nada mais.

Quando vai ao banheiro lembra sem querer que não pegou sua escova de dentes. Aí o telefone toca.

“Karina?”

“Oi...que surpresa. Não esperava que você ligasse.”

“Nem eu. Na verdade, quando percebi já tava discando o seu número. Mas eu só queria te dizer boa viagem.”

“Certo. Então...?”

“Então o quê?”

“Não vai me dizer seu tonto?”

“Ah! Boa viagem!”

“Obrigado. Vai ser legal.”

“Vou esperar sua volta. Posso?”

“Pode sim.”

“Então você vai voltar?”

“De um jeito metafórico?”

“Sei lá? Vai voltar?”

“Por que eu voltaria?”

“...seus chinelos rosas ainda estão aqui.”

Então Fernando ficou em silêncio, esperando pela resposta.

FIM

Em algum lugar de 2005


quinta-feira, 20 de março de 2008

I´M NOT OKAY




Bom, saiu há um tempo o livro virtual do Mojo Books, que tem quatro contos meus. Aqui vai um trecho do conto inspirado na música "I´m Not Okay":

"(...)
_ Eu só estava experimentando uma nova aventura.
_ Aventura? As pessoas se aventuram caçando crocodilos, entrando na floresta amazônica com um canivete sem corte, mas não se aventuram pulando de prédios. Principalmente sem pára-quedas!
(...)"


Download gratuito em :
http://www.mojobooks.com.br/mojo_inteira.php?idm=62




domingo, 16 de março de 2008

CRÍTICA DE FILME "EU SOU A LENDA "(2007)

Uma nova crítica cinematográfica foi publicada pela Revista Pupila.

Revista Pupila, Edição 3, Seção "Em Foco".
http://www.revistapupila.com/

Abaixo, a crítica na íntegra:

EU SOU A LENDA (2007)
Dirigido por Francis Lawrence.

Na primeira seqüência de “Eu Sou a Lenda” vemos as imagens de uma televisão. Uma cientista explica que com mudanças genéticas feitas no vírus do sarampo eles conseguiram erradicar o câncer em 100% de 1000 humanos testados. A entrevistadora pergunta se eles encontraram a cura do câncer. A cientista diz que sim.

Corta. Uma panorâmica sobre a cidade de Nova Iorque, três anos depois, mostra uma cidade inacreditavelmente desabitada e abandonada. No meio da vastidão da cidade, somos apresentados a um único humano, Robert Neville (Will Smith). Neville caça uma manada de cervos no meio da cidade.

Há uma certa precisão narrativa que tenta deixar de fora toda os excessos hollywoodianos, das cenas extremamente expositivas e cheias de diálogos. o filme acerta em certos detalhes e erra em outros, como vamos ver mais adiante. Todo o processo da "epidemia", período em que o vírus se radicalizou transformando os humanos em criaturas canibais da noite ocorre na elipse já citada acima. Uma elipse eficiente e que deixa espaço para a imaginação do espectador.

O filme prefere ficar com o protagonista na Ilha de Manhattam desabitada, Há apenas uma seqüência no filme anterior à devastação que é um flashback da noite do isolamento da Ilha de Manhattam que acarreta várias conseqüências para Robert Neville. O personagem é um cientista militar, pai de família, encarregado de procurar a cura para a epidemia. Ele carrega algum tipo de imunidade que impede sua contaminação e conseqüente transformação naquelas criaturas; faz experimentos no porão de uma casa, transformada em forte, injetando compostos isolados de seu sangue em cobaias - tanto em ratos, como espécimes das criaturas.

Um fato interessante em "Eu Sou A Lenda" é que as criaturas nunca são chamadas de vampiros. Até mesmo sua caracterização é diferente do que está estabelecido nos filmes de terror; as criaturas não possuem as icônicas presas, nem fica claro se elas se alimentam unicamente do sangue dos humanos ou se de sua carne também.

O clima apocalíptico do filme é representado com um realismo primoroso.

As cenas ambientadas nas externas de Nova York foram todas feitas em locações para um efeito maior de realismo, Chegou-se a discutir um polêmico custo de 5 milhões de dólares para a cena do bloqueio militar na Ponte do Brooklin.

Apesar de serem evitados os clichês, o filme ainda é um produto, passível de ser categorizado como um filme de ação. Se o filme arrisca nas cenas solitárias, quase sem nenhum diálogo, nas cenas de ação fica evidente o rótulo do filme. O diretor, oriundo do mundo dos videoclipes, não economiza nos efeitos pirotécnicos. Não se podia experar uma grande ousadia de Francis Lawrence, que dirigiu entre outros, videoclipes de Britney Spears (I´m A Slave 4 U), Aerosmith (I Don´t Wanna Miss A Thing), Avril Lavigne (Sk8r Boi) e Black Eyed Peas (Pump It). Seu primeiro filme "Constantine"(2005) é uma adaptação medrosa de uma história em quadrinhos chamada "Hellblazer". O filme era apenas um deleite visual que pecava na narrativa quadrada.

Vemos que as criaturas estilizadas vão contra a proposta realista do cenário, ao inserir elementos visivelmente digitais nesse mundo.

NO MAN IS A ISLAND

Apesar das cenas de ação grandiosas no terço final do filme, a narrativa se salva ao mostrar um protagonista solitário e acima de tudo frágil.

A solidão do personagem chega a dar inicio à loucura do personagem. Trata manequins como pessoas de verdade, conversa com eles e nomeando-os. Mostra também um grande apego ao cachorro. Numa das seqüências de caças aos cervos na cidade, um deles se adentra num edifício escuro. O cachorro continua a perseguição, mesmo com os protestos de Neville. O protagonista hesita em entrar e quando o faz, teme por sua própria vida. Quando encontra uma sala cheia das criaturas, quase abandona a busca, chegando a se despedir e pedir desculpas ao cachorro.

É assombrado pelas memórias do dia em que perdeu sua família, durante a evacuação e inicio da quarentena da Ilha de Manhattam, acontecimento que vemos fragmentado e sugerido em forma de pesadelos. Caças do exército destroem a Ponte do Brooklin, que liga a ilha ao continente.

A metáfora da ilha isolada cabe à figura do protagonista, tanto em seu isolamento físico como psicológico.

Há uma famosa passagem de um sermão de Jonh Donne, padre e poeta inglês do século XVII, que pode nos ajudar a explicar o personagem de Neville:

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.

Neville se recusa a abandonar a ilha, pois acha que tem melhores chances de obter a cura no "Marco Zero", no início da contaminação. A chegada de novos sobreviventes à ilha não inspira a seguir viagem com eles - os outros sobreviventes, uma mulher e uma criança, acreditam que o vírus não sobrevive às temperaturas baixas; acreditam que há comunidades de humanos nas montanhas.

Neville sente cada perda de vida em seus experimentos, mesmo que se trate das criaturas. Há uma parede cheia de fotografias das criaturas perdidas em testes. "A morte de qualquer homem me diminui, pois dou parte da humanidade". Cada perda também representa mais um fracasso em sua busca solitária.

No clímax do filme, as criaturas invadem sua casa e o protagonista finalmente acredita que "cada homem é parte do continente", entregando a cura recém descoberta aos viajantes que seguem rumo às montanhas. Aceita que sua parte na cura terminou que a responsabilidade não pertencia apenas aos próprios ombros.

Guilherme Shinji

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

MUSHABOOM


http://amyvcooper.com/portfolio/feist-live.jpg
Photo of Feist © Amy V. Cooper

ANTES DE LER:
um conto livremente inspirado na música "Mushaboom" da cantora canadense Feist, do álbum "Let It Die".

***

No meio da noite, Mariana acorda com um susto e senta-se na cama.
Ela olha para a janela, que está trancada; pro marido dormindo ao seu lado; para os próprios pés que calçavam meias dos personagens do filme "Procurando Nemo".
Pedro, percebendo a agitação ao lado abre os olhos.
_ O que foi?
_ Não é nada, não - ela diz.
Pedro nota que Mariana bate os pés um contra o outro. É o sinal de preocupação dela.
_ Pode falar, tô acordado já - ele diz um pouco sonolento.
_ Acho que estou um pouco preocupada com o primeiro dia de aula do Júnior.
_ Preocupada?
_ Eu fiquei pensando se ele vai sentir muita falta de casa, se ele vai estranhar a salinha de aula. Quem é que vai ajudá-lo a pôr o casaquinho?
_ A professora vai.
_ E será que ele vai comer todo o lanche que eu mandar? E se o lanche estiver ruim e ele jogar fora?
_ Calma, você vai ter tempo de aprender a fazer essas coisinhas.
Afinal de contas, o Júnior só vai nascer daqui a quatro meses.
_ É, talvez você tenha razão - ela diz, querendo acreditar.
Ele beija o rosto da mulher e se vira para o lado. Mariana se afunda no travesseiro e fecha os olhos, lentamente.


_ Será que tem muitos nomes feios que rimam com Pedrinho?

Fev 2008